terça-feira, 17 de agosto de 2010

FIFA e Copa do Mundo: Eu quero é bem longe daqui



Daqui a 4 anos teremos a tão esperada Copa do Mundo no Brasil. Ótimo não? Poderemos ver o nosso Brasil jogar em nosso território, coisa que acontece uma ou duas vezes por ano nas eliminatórias, pois nem nos amistosos a seleção é brasileira, prefere jogar na Europa ou nos Estados Unidos. Não, não é ótimo, é péssimo.

Vivemos em um dos países mais corruptos do mundo, onde os políticos mandam e desmandam enquanto a população continua a elegê-los, mesmo diante de escândalos como o mensalão, ou por exemplo Fernando Collor, que recebeu o impeachment quando presidente mas que em toda eleição é candidato e é eleito.

Enfim, para abrir a discussão, sugiro que vejam a ultima edição do programa "Bola da Vez" da ESPN Brasil, em que o entrevistado foi Andrew Jennings, jornalista que investigou a fundo os esquemas de corrupção do COI e da FIFA, e publicou livros com provas documentais dos assuntos tratados, tanto que não recebeu nenhum processo pelas publicações. Andrew Jennings também investigou a "Cosa Nostra", a famosa máfia Siciliana. Também são interessantes os programas da ESPN Brasil sobre o legado do Pan-Americano (não sei se lembram, mas em 2007 houve um Pan no Rio, que não trouxe nada além de corrupção e elefantes brancos) e sobre as candidaturas do Brasil para sediar a Copa e os jogos Olímpicos.

Como puderam imaginar, juntar a corrupção brasileira à corrupção da FIFA não será boa coisa. Vou analisar quatro situações que refletem os problemas particulares das sedes, e uma situação que reflete o problema da Copa em todas as sedes.

Caso "Rio de Janeiro": Superfaturamento e mais reformas que o necessário

Dinheiro público em um estádio público e que é utilizado por dois clubes do Rio. Parece que é um caso correto, faz sentido, mas não é. É previsto um investimento superior a 700 milhões de reais no Maracanã (é claro que esse é o valor hoje, provavelmente hajam gastos "extras" não planejados, e eu acredito que o investimento supere 1 bilhão de reais facilmente. No Pan por exemplo, os gastos previstos eram de meio bilhão de reais, e acabou em quase quatro bilhões). Enquanto a cidade do Rio de Janeiro praticamente vive em uma guerra civil entre tráfico e polícia, enfrenta um trânsito caótico, problemas sérios de segurança pública, escolas caindo aos pedaços, hospitais lotados, etc, etc...O dinheiro do contribuinte é gasto em um estádio de futebol. Inclusive, um estádio onde já foram investidos cerca de 200 milhões de reais (o número varia nas divulgações, em média deu isso) a dois anos atrás para o pan. O mais engraçado são as reformas inventadas. Agora vão reformar todo o setor das cadeiras azuis (contruído para o Pan), com isso o gasto já aumenta.

Caso Curitiba: Tentativa de injetar dinheiro público em bem privado

Aqui em Curitiba o caso é ainda pior. O governo do estado, a prefeitura e os políticos de legislativo vem unindo forças na tentativa de arranjar alguma brecha na lei que possibilite o uso de dinheiro público no estádio do Clube Atlético Paranaense, o que é extritamente proíbido (apesar de vivermos imersos na corrupção, pelo menos nossas leis a maqueiam). Se gastar dinheiro público em estádio já é descabido, o que dizer quando o governo tenta gastar o NOSSO dinheiro em um estádio PRIVADO, que não será para todos? E enquanto isso, o Clube Atlético Paranaense assinou um termo de responsabilidade pela reforma da Arena da Baixada, mas nada fez para conseguir um investidor. Inclusive, já disseram inúmeras vezes que não tem e não vão gastar dinheiro nas obras. E a CBF aceita isso tranquilamente, ao contrário do caso de São Paulo, que vem a seguir.

Caso São Paulo: Briga política

O problema de São Paulo já sai da alta esfera política e desce para a esfera futebolística. Devido a richa entre o presidente do São Paulo e o presidente da CBF, foi decidido que o estádio do Morumbi não tem condições de sediar uma Copa do Mundo (obviamente não tem, mas nenhum tem e todos serão reformados, o que poderia acontecer com o Morumbi). A solução inicial e relativamente simples, que seria o Morumbi, pode se transformar em mais corrupção: a idéia de construir um novo estádio. Seria gasto apenas dinheiro público nesse estádio, que se tornaria mais um elefante branco, pois não teria uso pós-Copa (falam em utiliza-lo para shows, mas para isso não é necessário um investimento grande, como o de um estádio de futebol nos padrões FIFA). Falando em elefante branco, vamos à Manaus.

Caso Manaus: Elefante Branco

Centenas de milhões investidos na construção de um estádio em Manaus, cidade onde praticamente não há futebol (para ser mais exato, o único estado do Norte com times de expressão, apesar da má fase que vivem, é o Pará). Mais dinheiro que poderia ser investido na economia ou na sociedade indo para estádios, e nesse caso, para suprir um capricho da FIFA e sediar dois ou três jogos, provavelmente de seleções inexpressivas. Jogos esses que não vão nem lotar o estádio.

Investimentos em infra-estrutura e benefícios da Copa

A África do Sul é o maior exemplo de como a FIFA suga como pode um país (por exemplo, a FIFA exige isenção de impostos nos países sede de Copas). A FIFA chegou com a falsa idéia de que uma Copa do Mundo faz um país prosperar (vemos aqui, em menor escala, como o Rio melhorou após o Pan, que trouxe a mesma proposta), mas todos os investimentos foram destinados aos estádios e às exigências de dirigentes da FIFA. Em Joanesburgo por exemplo havia uma proposta de construção de metrô. Ao invés disso construiram uma linha única de trêm que fazia o trecho Aeroporto-Centro de Imprensa. O trânsito continuou caótico, o povo continuou na miséria, a segurança continua um problema, e por aí vai. Também se enganam aqueles que acreditam que a Copa apenas gerou empregos. Gerou sim, inclusive houveram muitos problemas com isso, como o de trabalhadores receberam menos que o combinado. Enquanto o governo pagava com o dinheiro público os trabalhadores, a FIFA enxia os bolsos de dinheiro com patrocínio, cotas de televisão e afins, e não pagava um tostão de impostos para a África do Sul. Mas também tirou muitos empregos. Vi em uma entrevista, um cidadão que era vendedor de sucos e lanches e que foi "convidado a se retirar" das proximidades de um estádio, pois estava competindo com as marcas de refrigerante e de fast-food que patrocinaram a toda poderosa FIFA.

Enfim, falei bastante sobre alguns casos, mas isso é pouca coisa. Reforçando: aconselho a assistirem os programas citados da ESPN (em especial o "Bola da Vez" com Andrew Jennings).

E lembrando, daqui a 6 anos vem as Olimpíadas, trazendo os mesmos tipos de "esquemas" para enganar o povo brasileiro.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

É o tempo da travessia ...

Não gostaria de vir aqui postar texto de auto-ajuda, muito menos ficar falando de mim e da minha vida, meus problemas. Mas de qualquer forma preciso postar alguma coisa, mas ando tão desocupado que nem tenho muito do que falar, então vamos fazer uma breve reflexão relacionada a isso também.

Existem momentos em nossas vidas que nos vemos como observadores do mundo, estamos parados enquanto ele gira. É como se estivessemos deitados em um sofá no topo de uma colina, esperando o vento bater pra podermos cair de cara nesse mundo fascinante e horripilante. Mas nem sempre vem o vento. As vezes vem alguem tentando te empurrar, mas ninguem tem força suficiente pra vencer a sua resistência, só você mesmo. E nem sempre vencer essa desistência é simples questão de escolha. Quando já nos acomodamos nesse sofá, é preciso muita força de vontade e tomar muitas atitudes para conseguir levantar, como quando estamos a morrer de sono e o despertador toca, mas como não temos nada para fazer no dia em questão, não vemos motivos para levantar.

Na vida existe a opção de não sair do sofá, conheço pessoas com mais de 60 anos que ainda não sairam, estão vivas e tranquilas. E se não é um problema para elas, se alguem se sente bem vivendo no seu próprio mundo limitado, eu tiro o meu chapéu. Mas eu não consigo me sentir bem vendo as maravilhas e horrores do mundo escapando da minha existência. Creio que o mais dificil sempre é o mais recompensante, que não nos limitarmos as facilidades que a vida pode nos oferecer nos traz os maiores prazeres e as maiores lições, assim como as maiores dores e frustrações, mas viver é sentir, e quem se poupa do "sentir", está se privando de viver.

Fica um texto para traduzir minhas palavras em forma de poesia:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos..."


Fernando Pessoa